terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

No luto é o mundo que se tornou pobre e vazio”Freud (1917)



Em nossas vidas passamos por tantas perdas, perda de alguém querido, perda de um ideal, perda da pátria...Enfim são tantas perdas...Freud (1917) em Luto e melancolia, nos coloca que o nosso eu reage as perdas de uma forma que conseguimos explicar tão bem, de uma forma que não nos é estranha e nem a consideramos patológica; O luto.


Diferentemente da melancolia, que consiste em um processo extremamente complexo e uma disposição patológica, onde Freud diz que a “sombra recai sobre o ego”, o luto é uma reação que o nosso eu faz frente a uma perda real de algo em que realizou investimentos de amor e afetos em gerais. Com o passar do tempo essa perda deverá ir sendo superada “confiamos que será superado depois de algum tempo e consideramos inadequado e até mesmo prejudicial pertubá-lo”(Freud,1917, p.29)

O trabalho de Luto consiste em que nosso eu, retire os investimentos afetivos em relação ao objeto perdido, e que processe, elabore internamente, resolva a dor da perda reservadamente. O eu em contato com a perda real, recolhe-se como em um ato de se proteger frente a um perigo e fica a paisana em busca de um novo objeto, onde seus afetos possam ser novamente investidos. Acerca disso Freud (1917) nos fala:

Então em que consiste o trabalho do luto?Creio que não é forçado descrevê-lo da seguinte maneira: A prova da realidade mostrou que o objeto amado não existe mais e agora exige que toda a libido seja retirada de suas ligações com este objeto. Contra isso se levanta uma compreensível oposição; em geral se observa que o homem não abandona de bom grado uma posição da libido, nem mesmo quando um substituto já se lhe acena. Esta oposição pode ser intensa que ocorre um afastamento da realidade e uma adesão do objeto por meio de uma psicose alucinatória de desejo (ver o texto complemento metapsicologico à doutrina dos sonhos, 1917).

O normal é que vença o respeito à realidade. Mas sua incumbência não pode ser imediatamente atendida. Ela será cumprida pouco a pouco com grande dispêndio de tempo e de energia de investimento, e enquanto isso a existência do objeto perdido é psiquicamente prolongada. Uma a um, as lembranças e expectativas pela quais a libido se ligava ao objeto são focalizadas e super- investidas e nelas se realiza o desligamento da libido*. [b], que consiste em executar uma por uma a ordem da realidade, é tão extraordinariamente dolorosa, é algo que não fica facilmente indicado em uma fundamentação economica. E o notável é que este doloroso desprazer nos parece natural. Mas de fato, uma vez concluído o trabalho do luto o ego fica novamente livre e desinibido* *


Sempre perdemos algo na vida, e as perdas muitas vezes nos fazem sofrer e sofrer muito! É inerente ao percurso da vida as perdas, não gostamos de admitir isso, mas perder é natural! E estar triste pela perda é mais natural ainda! O interessante é passar pelo processo, conhecendo um pouco do que está acontecendo, isso nos livra da alienação que ronda o ideário da nossa sociedade, que nos diz que devemos viver sorrindo, e estar feliz sempre, independentes das circunstâncias que estamos vivendo (como se estar permanentemente e aparentemente bem e alegre fosse sinônimo de força e saúde).

Penso que muitas vezes saúde mental, é como Freud (1909) escreveu em suas cartas a Pfister, "É verdadeiramente um grande prazer interrogar as próprias coisas em lugar de ler a bibliografia já existente". Em outras palavras, é conhecer e procurar entender o que vivemos, é também se permitir fugir da ditadura de sorrisos na boca, e corações destruídos e olhar para dentro de nós mesmos e nos lançar atrás de respostas às nossas indagações mais íntimas. É em suma reagir ousadamente se interrogando como o Salmista no salmo 42 “ Porque está abatida, ó minha alma”(v.11a).

*(Esta ideia aparece em estudos sobre a histeria (1895)

**(nesse mesmo artigo Luto e melancolia existe um exame da economia desse processo)

Um comentário:

Caixinha impalpável disse...

é pela idéia de finitude que se pode dar um raro significado ao que é vivo!